quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Enquanto não sai... Mais pausa pra Poesia

Roda os (dois) Mundos

O vai e vem
nos passos
Sem tropeço e pausa
Eu parto sem
(   )
olhar pra trás
e (ti)
viagem de avião
embarque
Ônibus que sai na hora
e o destino a me esperar
sem
(   )
dor do parte
Em dias só
De sol e céu
aberto
em cima
um tempo certo
e eu volto e
Venho
e selo a
sua boca em mim
E é tua vez
de ir embora
e vir depois
Que eu vi
Tudo o que fiz
E vim

domingo, 1 de novembro de 2009

Pausa pra Poesia - Tenha Dó!

Se te beijo
não me quer
se te quero
não me vejo
(nos seus olhos)

Que me dói
é a tua dó
  o meu só
  o seu nó
         nós

Das nossas valsas
nas noites de quarta
mal dançadas,
que mal as faça?
A não
          Ser
o               dói
o                 oi
o               nós
vós             ele
e eu? Entro onde?
Na raiva? (Que passa, não passa)
Na calma?(Que vem, não vem)
Na hora de te ver
o embaraço
tudo embaça
o tempo passa
e o passo desacerta

Desfaz esse nó
que me amarra
depois me joga fora
depois me agarra
e volta a me amarrar nos teus braços.
Se o teu afeto não te afeta
e o meu?
Pra que tentar se...
Eu for, eu volto.
Se você for, eu fico,
mas...
Fica mais comigo
É pra passar esse afeto
Porque esse aperto no peito
desfeito estou.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Bate papo com o autor - sobre publicações, o que escrever e futuros posts

Saudações a todos!
Antes de mais nada agradeço a todos os que estão tirando alguns minutos para ler o que escrevo. Acreditem quando eu digo que não há gratificação melhor do que saber estar sendo lido. Peço desculpas pelos atrasos contínuos. Sei que é um saco, mas não posso prometer nada mais rápido, por enquanto.
Pode ser desculpa típica de Blogueiro, mas eu deixei um bocado de coisas acumularem na faculdade e, portanto, preciso dar atenção a elas antes que eu seja esmagado. Cortando as coisas chatas da conversa, atualmente estou com algumas idéias que talvez valham a pena serem citadas aqui. Três idéias em especial, quero dizer.
Uma dessas idéias é a produção de roteiros de histórias em quadrinho sobre a história de Belo Horizonte. Um clima meio inspirado em Will Eisner (mas definitivamente menos trágico, acho). A segunda é uma história sobre um sujeito que tentou deixar tudo pra trás e saiu pelo mundo, ao mesmo tempo guardando e esquecendo os sentimentos que tenta abandonar. E a terceira e mais recente é um conto sobre uma menina que tenta escrever uma história mas, sem saber com começar, ela busca idéias com histórias que nunca foram contadas.

Ah! Mas por que esse sujeito tá falando esse tanto de besteira e não tá postando a continuação da história que ele prometeu? Bom, é justamente pra dizer que, às vezes, não vou ter escrito a continuação justamente porque estou escrevendo outras coisas que, eventualmente, podem acabar aparecendo aqui no Blog. Quando? Ainda não sei dizer. Primeiro quero mostrar essa que estou escrevendo aqui. E vou fazer isso, no ritmo que eu puder.

Sobre as sugestões do Giovanni e da Thalita de procurar uma editora... Bem, é uma idéia muito boa. Aliás, é um sonho pra ser realizado. Com essa história? Não sei. Por enquanto quero escrever ela pra colocar aqui, pra quem quiser ler. Mas tenho planos pra outras coisas. Algumas vou colocar aqui, eventualmente. Um conto, uma crônica... Essas coisas. Mas a maioria vou guardando pro momento certo.
Falando na Thalita, ela me deixou um botão no Blog dela (que, aliás, é bem bacana. Em outra ocasião vou ver se falo dele e de outros blogs interessantes que eu acompanho). O problema: Não faço a MENOR idéia do que fazer com o botão, porque não seu usar todas as funções do meu blog! Depois vou precisar tirar um tempo pra aprender a fuçar em tudo por aqui. Eita!

Ah! E não se preocupem! Essa semana tem continuação, sim! Semana que vem eu tiro pra revisar o que estou postanto (a segunda parte, por exemplo, está cheia de erros e descontinuações).

Um abraço a todos e obrigado pela atenção e paciência!

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Parte III - Taverna

O calor do fogo pode ser sentido, espalhado pelo salão, enquanto o cheiro de carneiro assado e cerveja fresca convidam quem passa pela porta a entrar e participar das canções. A voz do bardo invade a noite, saindo pelas janelas e um anão resmunga, enquanto pede mais uma caneca de cerveja. Tavernas eram redutos de bebedeira, canções e divertimento. Existiam vários lugares assim em Mediana, que ofereciam toda a sorte de serviços e prazeres, desde as prostitutas mais caras, até entorpecentes vindos do sul distante. Ao contrário dessas outras tavernas, porém, o Escudo se abstinha de oferecer qualquer outra coisa que não fosse boa bebida, comida e alojamento para viajantes cansados. Além, claro de Thil-Lenii.
Thi-Lenii era um elfo, um filho do povo sem idade, como chamavam os humanos. O passar dos anos era mais lento para Thi-Lenii, deixando-lhe uma eternidade para aperfeiçoar sua arte, que era a música e a narração de histórias. Quando o elfo cantava ou tocava a lira era possível ver os olhos dos expectadores perderem o foco, enquanto mergulhavam em ruínas perdidas e lugares antigos. Mesmo sob o som da tempestade e o ribombar do trovão, o Escudo tinha todas as suas mesas ocupadas e seu salão abarrotado de pessoas em pé, para ouvir o elfo transformar sonhos em música e poesia.

A música continuou naturalmente quando a figura envolta em um pesado manto, encharcado de chuva, adentra as portas, onde pára, tentando não tremer de frio e aguarda que seja atendido. Logo um jovem criado, usando um avental bordado com um escudo em forma de um losango e se oferece para guardar o manto do viajante, enquanto aponta para uma figura carrancuda sentada por trás do balcão, com quem a hospedagem deveria ser negociada. Com um suspiro, o homem atravessa, encharcado, a multidão que se punha entre ele e um quarto aconchegante. A lira ressoava pelo ambiente e não era ouvido o som de nenhuma conversa, bebericar ou raspar de talheres, tamanha a atenção dos freqüentadores para com o elfo que se apresentava em um tablado no centro do salão redondo. Sem se importar com o cansaço ou com as roupas molhadas, o viajante parou em frente ao anão e escutou. Não havia nada que pudesse quebrar a harmonia das cordas ou a voz que cantava em uma língua estranha, antiga. Era como se nada fosse mais natural do que escutar aquela música lenta, constante, alimentada por mãos ágeis e versos sólidos. Somente quando o silêncio prenunciou a explosão de palmas e vivas é que, como se tirado de um transe, o cavaleiro viu-se diante de uma criatura baixa, de nariz adunco, olhos negros como piche, barba cinzenta e pele marrom.
-Saudações, mestre anão. Preciso de um quarto e um lugar nos seus estábulos, urgentemente!E de um banho quente, se o tiver. – titubeou o cavaleiro, como se ainda estivesse caminhando em um sonho.
-Hnf! Precisa mesmo. Principalmente do banho, se me perguntar. – Resmungou o impaciente anão, sem fazer qualquer menção de atender ao pedido do homem.
Os anões são seres de baixa estatura e orgulhosas barbas. São conhecidas por sua habilidade como artesãos, ferreiros, armeiros e cervejeiros. Têm personalidade dura como a pedra e a paciência de uma montanha. Era comum, também, que fossem pessoas de poucas palavras e comunicação cortada, de má vontade em serem tirados de seus pensamentos.
-Logicamente, pagarei adiantado pela minha estadia e a de meu cavalo. – Disse o cavaleiro, tirando uma bolsa de moedas de dentro do manto.
-É esperado que sim. – Resmungou mais uma vez o anão, ainda sem se preocupar em providenciar um quarto, banho ou qualquer outra coisa que o cavaleiro poderia parecer precisar.
O cavaleiro ficou sem saber o que fazer. Olhou para os dois lados, à procura de ajuda, mas não encontrou nenhuma. Na verdade, alguns dos outros clientes do Escudo se divertiam com a situação, rindo do embaraço do viajante.
-Não se importe com Regrin! – Disse uma voz bem mais receptiva – Ele apenas está mal-humorado porque sua diversão predileta ainda não veio esta noite. Sou Thil-Lenii, e lhe dou as boas-vindas ao Escudo!
O cavaleiro se virou e viu um elfo, uma cabeça mais baixo que ele e magro, os cabelos da cor de ouro claro, brilhantes sob a luz das lamparinas e velas. Thil-Lenii dava uma sensação de grandiosidade, como os de seu povo costumam fazer e, pela segunda vez aquela noite, o viajante sentia que podia ser reconhecido por aqueles olhos dourados que pareciam ser capazes de perscrutar os cantos mais profundos da alma dos homens.
-Não me diga que desistiu de hospedar-se, só porque teve o azar de conversar com um anão rabugento e mal-humorado!Você deveria saber melhor, estranho, que os elfos são muito mais dispostos a oferecer hospitalidade! – Thil-Lenii parecia achar divertida a hesitação do recém-chegado.
- Há! A hospitalidade de um elfo é como o presente de um feiticeiro. Sempre há um preço. – Disse o anão, gargalhando enquanto se afastava na direção de uma das despensas arrastando os pés e levava consigo uma espumante caneca de cerveja.
-Não. – Começou o cavaleiro com a voz um pouco falha, sem saber o que o anão quis dizer – Não, de forma alguma. – Continuou um pouco mais confiante. – Eu quero um quarto e um lugar no seu estábulo, para o meu cavalo. E um banho bem quente, para agora, se possível.
O elfo sorriu, com a lira ainda em uma das mãos, receptivo ao hóspede do Escudo.
-Certamente viajante!Seu banho estará pronto em alguns minutos. Seu quarto estará à sua espera logo após o banho e seu cavalo já está em nosso estábulo. Agora, se puder entregar sua bagagem para Nott, o criado, e esperar alguns minutos enquanto os preparativos tomam conta... – O homem se espantou com a eficiência de Thil-Lenii, em aprontar tudo aquilo em questão de instantes, desde que entrara na Taverna.
-Obrigado! – Foi tudo o que conseguiu dizer, enquanto entregava a bolsa, encharcada para o criado que o atendera antes. Em apenas alguns instantes, o viajante foi novamente chamado por Nott, que o guiou ao quarto onde dormiria e, depois, aos aposentos dos banhos, onde uma banheira cercada de vapor convidativo esperava para ser usada.

Atraso

Aos que esperavam a continuação da história, peço desculpas pelo atraso bem como pela qualidade baixa de edição da última postagem. Prometo que, assim que tiver tempo, corrijo tudo.
Quanto à próxima parte, peço mais alguns minutos de paciência. No máximo até amanhã terei a continuação editada e revisada e, na quinta, pretendo esclarecer uma ou outra coisa, talvez fazer um interlúdio.

No mais, agradeço aos que estão lendo, mesmo com a baixíssima velocidade de produção.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Parte II - Falcão Engaiolado

O som da tempestade envolvia o velho depósito em uma sinfonia de trovões e chuva. Às vezes um relâmpago cortava os céus, como uma lança arremessada pelos Deuses. Era uma tempestade terrível, que parecia tragar todo o mundo para si. Para aqueles sob as nuvens escuras e o rugido do trovão, nada parecia real, a não ser a tempestade.
Vez ou outra um atento ouvinte poderia notar o sutil choque de pequenas peças de madeira e o fino raspar de pena sobre um pergaminho. A donzela, porém, postada diante de uma janela semi-aberta, o rosto molhado pelos respingos de chuva, não dava atenção nem à tempestade nem aos sutis ruídos que vinham do fundo do depósito. Os olhos grandes olhos verdes estavam fixos na escuridão, sem procurar nada em especial.
Ao fundo do grande depósito, um homem velho, de rosto largo e bem barbeado fazia contas em um ábaco de madeira e anotava os resultados em um pergaminho, iluminado por três parcas velas. Estava absorto em sua tarefa e não dava atenção à donzela que insistia em molhar o próprio rosto e as pontas dos cabelos, debruçada na janela.
- Lamir? – Chamou a mulher, sem tirar os olhos da escuridão.
- Sim, minha senhora? – Lamir levantou a cabeça de seus afazeres para responder à mulher, ainda com uma conta na ponta da língua.
- Que há de especial hoje? É algum dia sagrado?
- Sagrado, senhora? Não creio.
- Nada que o povo do campo celebre? Ou a data de alguma batalha memorável?
- Não há nada, senhora. Hoje é o primeiro dia de inverno. Fora isso, não há nada de especial nesse dia.
A mulher calou-se e voltou a fitar a tempestade. Havia passado o dia inteiro entre momentos de inquietude, como um falcão em uma gaiola, e momentos de contemplação que lhe tiravam a atenção de tudo ao redor. Lamir ergueu uma das sobrancelhas. Levantou-se da cadeira, pesado e cansado, e caminhou lentamente até onde estava a donzela.
- Luccia, há algo de errado? – As palavras sem o adereço usual de ‘senhora’ fizeram a donzela se virar, o rosto duro. Por um momento os dois deixaram que o silêncio caísse entre eles e apenas o tamborilar furioso da água.
- Não sei. – Falou em tom opaco, antes de desfazer a expressão dura e repetir as próprias palavras. – Não sei, velho amigo. Sinto um fisgar no peito e me vejo constantemente distraída por velhas lembranças.
O homem suspirou, aliviado. Esboçou um sorriso triste, compreensivo. Era quase um ancião, de costas encurvadas e olhos que se espremiam para poder ver, resultado de muitos anos lendo e fazendo contas sob a luz de velas. Conhecia muito bem o sentimento de nostalgia, de saudade. Não podia evitar sentir simpatia pela inquietude da jovem mulher.
- Ora! São os anos, minha senhora. Me esqueço de que não é mais a garotinha de olhos atentos e espírito livre. Você cresceu, se tornou mulher. Hoje lidera uma casa de comércio com mão de ferro. – Sua voz se sacudiu em risadas baixas, amigáveis. – É natural que, de tempos em tempos, nos deixemos vagar no passado. É o sinal de que envelhecemos, crescemos. É sinal de que temos passado.
Luccia desviou o olhar, envergonhada como uma criança que recebe a experiência da voz de um pai. Lamir se virou para voltar ao trabalho, sorrindo. Não havia nada com o que se preocupar, pensou. Ela estava apenas perdida em lembranças. Desde que não se deixasse governar por elas, Luccia, estaria bem.
Vários minutos em que só se ouvia o som da tempestade e das anotações de Lamir se estenderam. A noite já ia alta quando o velho homem se levantou, um rolo de pergaminho nas mãos. Sem dizer nada, o ofereceu à donzela, que fixou seus olhos nas anotações com bastante atenção.
Mediana era governada pelo comércio, tanto por causa da intensa atividade e posição na rota de diversas caravanas, como do ponto de vista político. As decisões políticas eram todas tomadas por comerciantes, chefes, líderes e senhores de Casas Comerciais, que acumulavam mercadorias e possuíam navios, caravanas ou depósitos.
- No último mês conseguimos juntar o mesmo que toda a estação anterior! Nenhuma outra Casa consegue crescer dessa forma!
Luccia, porém, não mostrava a empolgação de Lamir. A casa de Maer, da qual era líder, costumava fazer parte do conselho da cidade, tamanha a influência exercia. Os arrendamentos costumavam ser maiores do que o de barões ou condes, senhores de terras férteis. Muitos anos atrás, tudo havia caído por terra e a Casa lutava para se reerguer.
- Lamir, nós não vamos fechar o depósito no inverno.
- Senhora? – O velho homem pareceu surpreso. Todas as outras Casas fechavam suas negociações mais importantes durante o período do inverno. Nem sempre por causa do frio, mas por um acordo mútuo. Era uma forma de manter o poder e as maiores transações nas mãos das grandes Casas e aniquilar os comerciantes menores, impedindo que ameaçassem os mais ricos e influentes. Somente o comércio local, de abastecimento, funcionava durante o inverno.
- As estradas para o Norte não serão bloqueadas antes do meio do inverno. Vamos tirar proveito disso.
- Senhora, o acordo entre...
-Eu me preocupo com isso. Mande avisar aos capitães no porto e aos chefes de caravanas.
A idéia lhe ocorrera por impulso. Era seu dever fazer com que a Casa de Maer prosperasse, trazendo ouro não apenas para si mesma, mas para todos os que estavam sob sua proteção. Lamir parecia querer argumentar ainda. Uma ação como aquela poderia atrair a ira dos conselheiros de Mediana, que cessariam todas as atividades de suas próprias casas de comércio. Era imprudência. Talvez fosse considerado até mesmo traição! Para evitar uma discussão, Luccia começou a vestir um manto o mais rápido possível, parando apenas para guardar alguns rolos de pergaminho e pegar uma espada que estava pendurada em uma das traves do depósito.
- Nos vemos amanhã. – Abriu a porta e, cobrindo a cabeça com um capuz, saiu para a tempestade, deixando para trás um esbaforido Lamir, que tentou lhe chamar várias vezes.
Na chuva, caminhava na direção do Escudo, que era ao mesmo tempo taverna e estalagem. Nos lábios havia um sorriso orgulhoso, de quem tomou uma ação e espera as conseqüências de peito aberto.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Notas e Explicações

Antes de mais nada, agradeço aos que tiraram alguns minutos de seu tempo pra ler. Sei que propaganda é um saco (peço desculpas por isso) mas eu ainda não tinha feito divulgação propriamente do Blog.
Respondendo às perguntas e sugestões: minha intenção era a de fazer posts uma vez por semana, como se fosse uma novelização ou algo assim. Infelizmente, minha própria desorganização (tanto pessoal como de escritor) acaba me pondo em xeque. Procurarei manter um ritmo de, pelo menos, uma vez a cada quinze dias pra continuar a história. Nesse interím, vou procurar colocar notas e observações da minha parte, às vezes explicando um pouquinho de onde tirei as idéias ou outra coisa do cenário.

Bom, essa primeira parte já tava pronta há anos. É uma história de lentíssima produção, pelo menos no início. Juro que, quando comecei, só queria descrever a chuva. O viajante, os guardas e o misterioso benfeitor que abre a porta vieram quase que naturalmente. Exatamente por isso, essa falta de planejamento, é que eu demorei muito tempo pra compor uma trama, ligar os personagens, amarrar o cenário.
Não tenho a menor intenção de apresentar pra vocês, caros leitores, um novo mundo de fantasia medieval, com longuíssimas descrições daquilo que, hoje em dia, nem é mais tão desconhecido assim (querendo ou não, todos que escrevemos esse tipo de coisa somos produto de Tolkien e Robert E. Howard). Minha proposta é a de contar uma história que seja interessante.

Por enquanto, sem desenhos do Barba. O cara tá tão ocupado quanto eu em outros projetos.
Agradeço a atenção e paciência de vocês.

Um enorme abraço e até semana que vem!

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Primeira Parte - O Viajante Sob Tempestade

A noite era de tempestade. O dia havia sido claro, sem nuvens e levemente frio, apesar de o sol ter estado visível o tempo todo. Durante todo o dia as pessoas trabalharam; no cuidado com a terra, na alimentação de porcos ou bois e galinhas. Mulheres cozinharam, cuidaram dos filhos e mantiveram a casa limpa, enquanto homens construíram pontes ou restauraram as que estavam danificadas e carregaram pesados sacos de grãos para depósitos e buscaram água e trocaram mantimentos. Havia sido o primeiro dia de inverno, apesar de o frio ainda não incomodar. Mas a noite era de tempestade.
Nuvens negras surgiram no céu como que saídas do nada assim que o sol começou a sumir nas montanhas do oeste. Quando a lua encoberta era a única luz no céu negro, as nuvens lançaram chuva e granizo, assustando animais, destruindo telhas e telhados e mantendo qualquer um que pudesse caminhar à noite em casa, onde as lareiras queimavam e soltavam fumaça. E todos os moradores de Mediana ficaram contentes em permanecer em seus lares.
O som de cascos foi abafado pelo barulho da chuva que caía com força no chão e da água que escorria pelos dutos e calhas, então os guardas do portão não ouviram o estranho que chegou coberto por uma capa pesada e montado em um grande cavalo castanho. Como era noite, os portões estavam fechados e o estranho simplesmente esperou que algum vigia percebesse a sua chegada. Mas a chuva, o frio e a noite é capaz de tornar os guardas desleixados e ninguém notara o cavaleiro solitário à espera de abrigo da chuva, frio e noite.
O viajante logo se impacientou e bateu com o cabo da lança que carregava contra portão da cidade. Os vigias, surpresos por alguém pedir entrada em Mediana àquela hora da noite e no meio de uma tempestade, acabam por se demorar deixando o viajante ainda mais impaciente. O cavaleiro então tirou uma trombeta de dentro da sua capa e tocou uma nota clara, mas ainda assim capaz de ser ouvida a muitas léguas de distância.
- O que é isso? Quer acordar a cidade toda com essa coisa? - Pergunta o guarda que fora ao muro ver quem batia no portão.
- Se for preciso para que abram o portão e me deixem entrar, sim! - Respondeu uma voz firme de homem e o estranho moveu sua cabeça para ver o guarda, que o fitava da muralha acima.
Por um momento o guarda não fez nada. Apenas ficou parado, olhando aquele homem estranho montado em um cavalo enorme que aparecera no meio da noite. Via-se que era alguém alto, de ombros largos. A lança que usara para bater no portão estava na mão esquerda e a trombeta branca, na mão direita. Era possível perceber a forma de um escudo empacotado em um manto, pendendo na sela. “Esse pode significar encrenca”, pensou o guarda, mas não fez qualquer menção de espantá-lo.
- Como é! Vão me deixar entrar ou terei que esperar até o amanhecer para encontrar um lugar seco? - Disse o estranho depois de bufar impacientemente.
- Até o amanhecer? Ora! Se você não puder entrar agora como vai entrar ao amanhecer? - Perguntou o guarda, pensando ser muito esperto. Mas o cavaleiro apenas suspirou, cansado, e seu cavalo pateou o chão.
- Porque, meu caro vigia, ao amanhecer vocês abrirão os portões, como fazem todos os dias, para que comerciantes possam entrar e sair com suas mercadorias e para que os agricultores da região possam comprar os mantimentos para o inverno e, no meu caso, para que os viajantes possam entrar e se secar depois de uma noite pouco hospitaleira na chuva.
O guarda ficou novamente em silêncio. Não sabia o que fazer. Não era permitida a entrada de estranhos à noite, mas não faria qualquer diferença impedir o homem de entrar, se ele entraria de qualquer forma quando os portões fossem abertos. Era difícil decidir e o guarda manteve-se imóvel, pensando. Antes que o viajante se impacientasse de novo, uma pequena porta, presa ao portão, range, estala e se abre. O vigia parecia tão surpreso quanto o homem que estava à chuva quando a luz de uma tocha convidava o abrigo de um teto.


-Minhas sinceras desculpas, Cavaleiro. Mantemos os portões da cidade fechados à noite, para evitar ataques de goblins. Infelizmente, isso também impede os viajantes cansados de entrarem.
O cavaleiro desceu do cavalo, que havia guiado para dentro dos portões da cidade através da portinhola. O homem que havia aberto a portinhola era velho, com os cabelos brancos e ralos e vestia uma pesada capa para se abrigar da chuva. Seus olhos eram de um azul profundo e seu rosto, bem barbeado. Trazia certa autoridade no olhar, embora fosse quase imperceptível por trás das roupas e cabelos molhados.
- Sou Sagres da casa de Melvar - disse por fim e esperou que o homem se identificasse.
Um silêncio mortal pairou sobre os dois homens e só se escutava o som da chuva batendo na madeira, acima nos muros, onde os guardas vigiavam a noite. Por um breve momento, o viajante fez menção de tirar a pesada capa e revelar o rosto encoberto pelo capuz, mas não o fez.
- Agradeço por ter me tirado da chuva e me dado a chance de dormir sob o teto quente de uma estalagem. Mas peço que me permita ocultar minha identidade por mais algum tempo. Tenho fortes motivos para isso e lhe garanto que, logo, irei me revelar para todos os que quiserem saber quem sou.
Sagres escutou aquelas palavras com gravidade, mas não demonstrou outra emoção. Manteve o olhar fixo no estranho à sua frente, os olhos azuis ilegíveis. O cavaleiro imaginou se havia ofendido o homem, mas ele nada disse sobre isso.
- Homem!Lembre-se que chega a essa cidade como um estranho, à noite. Não lhe peço a história de sua vida, nem seus motivos para chegar sob uma tempestade. O que peço é alguma identificação, seja ela qual for.
O cavaleiro pareceu prender a respiração debaixo do manto. Mas logo resolveu que Sagres tinha razão, ao menos em parte, por isso desembrulhou o escudo, atrelado à cela do cavalo e revelou um brasão, pintado na madeira.
- Sou um Cavaleiro da Ordem da Espada Branca, senhor. Venho a esta cidade em paz, isso eu lhe garanto. E, enquanto permanecer, eu juro cumprir as leis e praticar o bem. Perdoe-me a rudeza de não ter me apresentado propriamente e peço que não julgue os meus irmãos da Ordem pelo meu erro.
Os olhos azuis de Sagres pareceram cintilar e novamente, fitou o recém-chegado fixamente. “Ele sabe quem eu sou”, pensou o cavaleiro. “Talvez eu deva me revelar e as minhas intenções”. Mas antes que fizesse qualquer coisa, Sagres falou, em tom cordial.
- Saudações, Cavaleiro da Espada Branca! Você é bem-vindo, seja qual for a hora. Espero que aprecie a sua estada em Mediana. Se procura uma boa cama, fogo na lareira e uma refeição prodigiosa, sugiro que vá até a Taverna do Escudo, a melhor da cidade. Se quiser, posso guiá-lo, embora seja apenas a duas ruas para o leste.
-Agradeço sua preocupação Sagres da casa de Melvar, mas conheço as ruas de Mediana e também o caminho para o Escudo. Agradeço, mais ainda, a permissão para omitir o meu nome, por enquanto.
-Não agradeça cavaleiro, pois esse favor vem com um preço, que você ainda não conhece. Amanhã, depois do anoitecer, conversaremos e, então, tudo será esclarecido. Até lá, espero que sua estada em Mediana seja proveitosa. Descanse bem.
Com essas palavras, Sagres partiu em direção à chuva e, depois de alguns momentos, desapareceu na escuridão. O cavaleiro ficou perturbado com as implicações daquela condição, mas seguiu silenciosamente pela chuva que ainda caía, em direção ao Escudo, a melhor taverna de Medianna.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

A Roda Gira

Ok, ok. Prometi mil coisas e não cumpri. Sei que é péssimo pra minha reputação estourar os prazos, principalmente os que eu mesmo delimito.
Nos últimos meses briguei com minhas obrigações e com a inspiração, que não vinha pro que eu queria. Agora estou mais tranquilo do que deveria estar, então vou procurar cumprir minhas promessas e ter menos medo dos resultados. Agora chega de falar da minha vida miserável.

Uma introdução à história que quero contar. (Coisas que vocês precisam saber antes de mergulhar)

É ambientada em um cenário de fantasia medieval, à lá Tolkien (Senhor dos Anéis, entre outros autores). Foi elaborado para ser um mundo de RPG e mestrei nele durante um tempo, aproveitando material que eu produzia ao longo da vida. Tem lá suas histórias, seus heróis, seus vilões... Nada de muito elaborado ou completo. Era só um jogo pra mim (e não é muito diferente pra mim hoje: é diversão). Faz anos não mestro usando o cenário, mas costumo criar minhas histórias fantásticas nele, por força do hábito e uma ponta de orgulho. Ficaria muito feliz em dividir algumas dessas histórias aqui e ver a reação do pessoal.

O cenário e o mundo ainda não têm nome, mas é povoado por criaturas mágicas como Elfos, Anões, Gigantes, Dragões, Goblins e outros. O extremo Norte é um deserto congelado e o extremo Sul, um deserto de areias. A cidade na qual começa a história chama-se Mediana, justamente por ficar ao meio de rotas comerciais importantes (e quase a meio caminho entre grandes centros de poder). Vou tentar arranjar um mapa pra ficar mais fácil a visualização, aliás.

Sem querer entrar em detalhes, não é um cenário especialmente chamativo, mas tem lá suas particularidades, que eu procurei requintar nos anos que duraram sua elaboração. Vou procurar explicar o mais importante ao longo da história mesmo ou, se for difícil ou imprescindível, farei posts explicativos "fora" da história.

No mais, é isso. Aguardem a semana que vem e vejamos o que sai.

PS: Tentarei combinar os posts com Ilustrações de Guilherme "Barba" Elias Figueiredo.

domingo, 17 de maio de 2009

Sumiço e posts futuros

Por enquanto não tem muita gente que lê o Blog, se é que alguém o faz. Ainda assim me sinto na obrigação de me desculpar pela falta de posts recentes e decentes. Tenho me ocupado escrevendo as coisas de faculdade e acho que vai ser assim por algum tempo.
Mas também tenho planos para passar a postar aqui com mais freqüência no futuro ou, pelo menos, posts mais "centrados". Decidi pegar uma velha história minha, de fantasia medieval, e dar um jeito de colocá-la aqui, aos poucos. Assim desenvolvo o que eu já queria escrever faz tempo e ainda aproveito algumas coisas que já estão prontas. E isso vai pedir mudanças no visual. Vou dar meu jeito e ver o que posso fazer.
Sobre a história em si, não há muito que eu possa falar. Não tem título ainda, mas é sobre um cavaleiro sem missão, uma donzela com vontade de ferro, um homem (meio-elfo) em busca de paz e um espadachim em busca de conflitos. Como a vida dessas três pessoas, diferentes, se reúne ao redor de uma cidade mercante, em suas intrigas, governantes e moradores, bem como a sombra de um passado distante. Honestamente, não sei como a história vai terminar, mas sei como começa.
Vou dividir os pots em "partes", ao invés de capítulos, acho. Então, o primeiro post será a "primeira parte do capítulo I" e assim por diante. Os pots e capítulos iniciais não devem ser longos, mas talvez as coisas fiquem mais confusas no decorrer da história. No mais, veremos. É tudo uma experiência pra mim.

Agradeço a atenção e paciência de vocês.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Sétimo Filho Vivo

Sem coisas pra postar por aqui por enquanto. Então vou colocar o breve histórico de um personagem de RPG que eu gostei bastante. Personagem simples, sem nuances psicológicas, passados secretos, carências de infância, pais assasinados, nem vinganças milanares. É só um guerreiro que quer o que os guerreiros querem: saque, cerveja, mulheres, luta e diversão.
Observação: o cenário é Forgotten Realms, na região dos Antigos Impérios, no "reino" de Chessenta. Os Antigos Impérios são baseados nas antigas civiliazações Mesopotâmicas, Egípcias e, no caso de Chessenta, da Grécia, cheia de cidades-estado independentes. Akanax, cidade natal do personagem em questão, é quase uma Esparta com a frota naval Ateniense.

As pontas das lanças e das espadas eram vermelhas refletidas no sol de outono. Eram cinqüenta homens, usando armaduras de bronze, elmos, grevas e escudos redondos de metal. Cinqüenta guerreiros treinados para a matança, pilhagem e batalha. Eram todos veteranos a serviço de meu pai. Eu tinha quinze anos e havia experimentado o sangue e a batalha pela primeira vez. Brutus, meu irmão mais velho, ria enquanto arrancava a lança da barriga de um homem e veio para a minha direção, empolgado.
- E então, irmãozinho? Você sobreviveu à parede de escudos, apesar de provavelmente ter se mijado todo.
Eu havia feito mais do que sobreviver naquele dia. Havia matado quatro homens e minha espada estava pegajosa com o sangue deles. Não havia sentido um pingo sequer de medo.
- Você está se confundindo, Brutus. O cheiro de urina vem da sua túnica molhada.
Meu tio, Cyro, dizia que os homens de Akanax nasciam com a sede de sangue, a luxúria da matança e ele provavelmente estava certo, porque não conheci sequer um homem livre que não soubesse segurar uma espada ou lutar em um barco. Akanax, cidade de guerreiros. Meu lar. Olhei para os homens de meu pai, que agora pilhavam os depósitos de grãos, matavam gado e pilhavam os corpos dos inimigos. Eram cinqüenta guerreiros endurecidos, mas eram apenas um bando dentre outros milhares. Akanax tinha guerreiros demais e eu era o sétimo filho vivo de Tharso. Meu irmão passou o braço por cima do meu ombro.
- Um dia, irmãozinho, nosso pai não estará mais vivo. E eu vou comandar homens e um navio. Se você deixar de ser um mijão inútil, posso tolerar você no meu bando.
E riu, deliciado. Era o filho mais velho, o herdeiro e eu era seu irmão mais novo. Era dez anos mais velho do que eu e me vira crescer sob a tutela de Häaki, um homem escravo capturado em terras distantes, no norte. Meu irmão me amava, mas tudo o que ele poderia me dar era um lugar entre cinqüenta outros. E eu queria mais. Sempre quis. Ri com ele e fomos em direção a Alexius, um dos guerreiros de meu pai, que havia descoberto um enorme barriu de vinho. Naquele dia, com a espada ainda sangrenta e a cota de malha brilhando ao sol que se punha no céu de outono, me embebedei como nunca. Era jovem, forte e havia matado quatro homens em meu primeiro combate de verdade. Era guerreiro e era vitorioso.
Fui criado para ser forte, invencível, disciplinado. Um soldado. Era o destino de todos os filhos de Akanax. Por dois anos guardei a minha parte do saque de todas as incursões que fizemos. Ainda ficava no final da parede de escudos e, à bordo do navio, era remador. Não tinha idade nem experiência para me comparar aos mais bem treinados do bando de meu pai. Ainda assim, guardei tudo o que pude. Häaki, que não tinha um dos braços, havia enchido minha cabeça de histórias de seus tempos de aventureiro.
- Um homem com uma espada e amigos fieis pode fazer a fama alcançar ainda mais alto do que a dos reis, garoto. E há riqueza nesse mundo, se você estiver disposto a lutar por ela, se arriscar e encarar a morte. Agora lembre-se de que a força da espada está no giro do pulso e não nos braços, portanto repita o exercício mais uma vez.
Fama e riqueza. Ouro de dois anos guardado em um baú escondido em meus aposentos. Akanax já tinha guerreiros o suficiente e meu irmão, Brutus, herdaria a casa, o barco e os guerreiros de meu pai. Mesmo que morresse, Aurus, o segundo, era o próximo na linha de sucessão. Sétimo filho vivo é muito distante da herança. No final de um inverno, comprei meu próprio equipamento de guerra, provisões, e fui embora da casa de meu pai. Um guerreiro em Akanax era apenas um entre milhares. Mas um soldado da fortuna poderia fazer a própria sorte enquanto viajasse por terras estrangeiras mergulhadas no caos. O primeiro filho herda as propriedades do pai, mas o sétimo é senhor do próprio destino, livre para conquistar fama e riquezas além da expectativa de qualquer homem. Então eu seria rico como um rei e temido como um dragão.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Que diabo!

Tá certo. Criei cá um Blog. Teve o post inaugural, xinguei uma vez e fiquei na dúvida. Daí postei umas linhas antigas. Acho que agradou alguém. Mas eu volto aqui e penso comigo: que diabo! Que que eu vou fazer com um blog? Não sei o que colocar aqui. Não sei se escrevo umas coisas diretamente pra cá, se desabafo, se xingo o mundo, escrevo sobre política, filosofia, cinema... Pra terminar, não sei fuçar nesse troço de internet e nem tenho muita vontade de aprender.
Não falo que vou deletar isso aqui. Só quero dizer que não sei o que mais postar por aqui. Tenho cá umas coisas, mas fico imaginando se não era pra eu manter uma temática ou se deixo virar a casa da mãe Joana. Nada contra nenhuma das duas coisas, claro. Mas continuo sem saber o que fazer.
Dia desses largo tudo, ponho uma mochila nas costas e ganho a vida com os punhos. Tipo o Ryu, que é um cara foda.




O céu tava bonito até agora há pouco. Cinzento, cheio de nuvens. Bem de frente pra minha janela, se abria como um mural, mostrando o azul e os raios fracos do entardecer vindos do Oeste.
Agora o céu tá lindo. A escuridão da noite começa a avançar, mas as nuvens são mais rápidas, cavalgando no vento. Rápidas e negras. Sinto o cheiro do raio e do trovão. Quando começar a chover, vai ser um espetáculo.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

A espada em punho não é capaz de traduzir o clamor do aço, o chamado pelos deuses. A coragem que cresce no peito, junto com a explosão de felicidade, impelindo o avanço em carga total e o grito selvagem e aterrorizante. E os deuses respondem ao chamado. Ou talvez seja apenas a tolice da juventude fazendo-se ouvir. A sede de sangue, o ódio desmedido que toma conta de todo o ser. E a espada em punho não é capaz de traduzir a vontade de morrer. A glória do herói, que se esconde por trás da covardia da morte. Morrer em glória para não viver em tristeza.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Dentro de uma caixa de papelão

(Esse é outro já pronto. Tinha até mostrado pra algumas pessoas e muitas fizeram sugestões e críticas. Essa é uma das primeiras versões revisadas, sem mudanças grossas, então algumas coisas eu ainda vou mudar, um dia. O título era um improviso e agora não consigo imaginar essa história com outro título. Garotas, por favor não levem para o lado generalista, ok?).

A campainha do apartamento soa estridente por um momento e pára. O homem aguarda por um tempo e, como não houvesse resposta, aperta o botão mais uma vez, já impaciente. Outros longos momentos se extendem e, quando a capainha já estava para ser tocada uma terceira vez, a porta finalmente se abre e o homem exclama surpreso.
“Oh!”
Uma mulher escultural pára diante da porta. Seus longos cabelos ruivos como cascatas de seda e os olhos verdes, grandes e expressivos. Ela vestia apenas uma fina camisola branca transparente que mal lhe cobria o corpo curvilíneo. A sensualidade para ela era uma coisa natural.
“Não achei que você fosse mesmo vir.”
Havia paixão em sua voz e um fogo em seus olhos. O homem respondeu com frieza excepcional.
“Eu disse que viria. Até deixei um recado essa manhã, confirmando.”
“Mesmo assim. Achei que não viria.”
“Bom, eu vim. Como disse ao telefone na terça, preciso pegar uma coisa.”
Se a mulher se incomodou com a frieza do homem, não demonstrou. Com um suspiro ela se move para dar passagem ao homem, que atravessa a porta com passos rápidos. Logo depois, a mulher fecha a porta.
“Então? Onde está?”
Pergunta o homem, olhando ao redor, para a sala de estar.
“Já não guardo o seu aqui faz muito tempo. Venha, deve estar no quarto de tralhas.”
Meio irritado, o homem segue a mulher até um quarto pequeno e com cheiro de mofo. Por um tempo ele permanece no vão da porta enquanto ela revira caixas e pilhas de revistas velhas. Aqui e lá várias caixas de sapato encardidas com nomes escritos são realocadas. Algumas fazem barulho como se tivesse muitas coisas pequenas dentro.
“Acho que é esse aqui. Dá uma olhada.”
E estende para o homem uma caixa de sapato, sem nome algum escrito nem etiqueta. Uma caixa velha e bastante amassada, mas sem nenhum cheiro estranho. O homem olha por um instante, tentando reconhecer alguma coisa. A mulher apenas boceja.
“Deixa eu ver aqui...”
O homem balança a caixa de leve, como se estivesse com medo de quebrar o que quer houvesse lá dentro. O barulho de muitas coisas pequenas se chocando com o papelão e com outras coisas pequenas. Talvez fosse vidro quebrado, mas é um barulho difícil de identificar. O homem fez um muxoxo e abriu a caixa.
“Bem, é esse mesmo. Obrigado pela sua atenção.”
E vira-se para olhar a mulher com expressão séria. Ela parecia um pouco desapontada.
“Eu preciso ir agora. Não quero tomar mais do seu tempo. Obrigado e até a vista!”
Mas a mulher fala, com a voz levemente irritada.
“Não é certo, sabe? Você tinha me dado, oras. Não é certo tomar presentes que já foram dados e você sabe disso.”
O homem fica boquiaberto, meio surpreso e meio irritado.
“Bom, você não está usando ele pra nada, não é? Olha só onde ficava guardado!”
“Ainda assim. Você tinha me dado...”
“Eu expliquei ao telefone, não expliquei? Eu preciso dele agora. E veja o estado que você o deixou!”
O homem abre a caixa e mostra para a mulher, que fita inexpressiva. Ele a balança para enfatizar o que dizia.
“Você tem idéia do trabalho que vai dar pra remendar isso tudo?”
O homem estava impaciente, como se a mulher tivesse tocado um ponto delicado, uma mágoa ainda não curada. Ele segurou alguma coisa que parecia um caco de vidro muito delicado e de cor levemente avermelhada.
“E ainda tem muitos pedaços faltando! Vou ter que improvisar pra repor!”
“Eu me lembro muito bem do que você disse quando me ofereceu! Muito bem!”
“Isso não era justificativa para quebrá-lo!”
“Você disse: ‘Querida, é seu para fazer o que quiser.’”
O homem estava quase vermelho de raiva e a mulher parecia exasperada. Os dois se olharam por mais alguns segundos, os olhos soltando faíscas.
“Essa discussão não vai levar a lugar nenhum. O que terminou, terminou. Só preciso disso pra seguir em frente. Agora eu preciso ir. Eu realmente preciso ir. Tenho um compromisso com... Com outra pessoa.”
“Bom, vá em frente! Quem sou eu pra te fazer perder um compromisso importante com alguém especial? Você já veio aqui o suficiente pra saber onde fica a porta.”
E a mulher entrou em um outro quarto, maior, mais limpo e luxuoso que o quarto de tralhas e bateu a porta. O homem fechou a caixa com cuidado e foi em direção à sala de estar, por onde havia entrado. Na sala, ele pára para observar melhor a nova decoração. Imaginou de que homens cada peça havia sido presente e as imaginou quebradas e esquecidas no quarto de tralhas. Ele nem sabia por que ela guardava tantas daquelas coisas, que não precisava mais. Talvez como troféus? Ou quem sabe para que cada um dos homens voltasse para reclamar o que era deles por direito? Ele suspirou e saiu pela porta destrancada. Não importava mais quem havia entregado o seu para aquela mulher. Ele já tinha recuperado os pedaços do próprio coração e estava satisfeito. Vida nova, coração remendado. O que lhe importava os corações de homens anônimos na vida de uma mulher?

segunda-feira, 16 de março de 2009

Tameshigiri no Bairro dos Prazeres

As flores de sakura caíam das árvores, criando um cenário de sonhos sob a luz da lua cheia. A doce brisa trazia os sons alegres da zona alegre da cidade, junto com o odor do sakê caro e do pó de arroz da maquiagem das mulheres.
“Não vão durar muito mais”, pensou. Já eram os idos de maio e as flores de cerejeira que rodopiavam com o vento eram as últimas do ano. “Estranho como aqui as sakura sempre escolhem o final de abril para florir.”
O homem caminhava lentamente saindo da zona alegre da cidade, em direção à área nobre. Era bonito, os cabelos bem compridos e as feições do rosto delicadas com sobrancelhas finas. Não parecia um guerreiro. Não fossem as duas espadas em sua cintura, ninguém diria ser um samurai. As espadas... E os olhos. Quem quer olhasse o rosto do homem não podia deixar de notar os olhos frios que faiscavam como lâminas negras. Havia um quê de animalesco naqueles olhos, como se não fossem humanos, mas de alguma fera primal, faminta e furiosa. Uma fera presa em pele humana.
Depois de notar os olhos, outras pistas podiam ser vistas com facilidade. O maxilar tenso e o rosto sem expressão traíam qualquer traço de gentileza que suas feições pudessem oferecer. A postura ereta como uma lança apontada para o alto mostrava a qualquer um que aquele homem não era um trabalhador braçal nem um cortesão, mas um matador experiente. E, principalmente, a forma de andar... O caminhar daquele homem era como se fosse um predador sempre à espreita, sempre pronto, sempre à espera.
“Sempre pronto”. Outro pensamento. As pessoas passavam ao seu redor, felizes. Os homens, todos ricos e de prestígio dentro da cidade, caminhavam para suas casas de prazeres favoritas, enquanto mulheres convidavam os transeuntes a entrarem e se divertirem.
O som de sandálias batendo apressadas no chão e um estranho se interpõe à frente do homem que, até então, caminhava lentamente. O estranho era alto, forte. Os cabelos raspados, o mage e as espadas na cintura indicavam claramente que era um samurai. O suntuoso kimono coberto por um haori indicavam que era rico. A falta de símbolos nas roupas significava que era um samurai sem senhor ou então um guerreiro em jornada de aprendizagem, que não poderia declarar-se vassalo de homem algum. O homem olhou sem expressão para o estranho que se interpunha em seu caminho.
- Harada Shimaru, da casa Harada, vassalo de Sakakibara Yasumasa, do clã Tokugawa! Eu, Kunimitsu Kaito, menkyo kaiden do Kaiten-ryu de Kyoto, o desafio para um duelo. – Kaito tinha a voz forte, poderosa. Falava alto para todos ao redor ouvirem. Um desafio que não podia ser recusado sem a ofensa da honra.
- Sob que pretexto? – Shimaru tinha a voz suave, quase como um sussuro. Mas havia uma frieza monstruosa nela que alcançava os ouvidos de todos com tanta eficiência quanto os gritos de seu pretenso desafiador. Os transeuntes pararam em seus passos e se afastaram. Algumas casas de prazeres fecharam suas portas às pressas.
- Sou um guerreiro no caminho da espada. Que outro pretexto poderia eu ter, a não ser o aprendizado? Se derrota-lo serei reconhecido como o homem que matou o “Ashura” de Edo.
Shimaru suspirou antes de falar. Não era sempre que alguém tomava coragem para desafia-lo em combate. Por mais que fosse um júbilo poder enfrentar um oponente, um duelo em praça pública poderia causar problemas. Principalmente na zona alegre da cidade, onde as pessoas iam para se divertir. – Não posso enfrenta-lo aqui, onde outras pessoas transitam. Derramar o seu sangue nesse lugar só traria a infelicidade das pessoas que vieram até aqui para se esquecer de seus fardos. Escolha um dia e um lugar e eu estarei lá.
Kaito pareceu se enfurecer diante da resposta de Shimaru. – Covarde! Um verdadeiro samurai não se esquivaria de meu desafio dessa forma!
Shimaru mais uma vez suspirou, resignado. – Está ciente de que enfrenta o Souke do Shini-ryu, o estilo da morte? – Shimaru se pôs em posição de alerta, sem sacar a espada. Esperava o oponente fazer seu primeiro ataque.
Kaito sacou sua katana e bufou. As pessoas que ainda restavam ao redor fugiram desabaladas. Com gritos, o desafiante se aproximava do homem à espera, pé ante pé, tentando invadir o maai do oponente. Shimaru permaneceu imóvel.
-Um ronin devia ser mais humilde em seu desafio, Kunimitsu-san. – Kaito parou ao ouvir as palavras de seu oponente. O efeito que elas causaram não podiam ser registrados, embora o rosto do desafiante tivesse ficado vermelho. Fosse de raiva ou vergonha, Shimaru não pôde determinar, uma vez que Kaito atacou com uma carga súbita usando a força das pernas.
“Hm... Um corte vindo do alto, da postura joudan. E ele se diz um menkyo kaiden? Há mais nesse estilo do que eu possa perceber.” Em movimentos fluídos e sem sacar a espada, Shimaru pisou para o seu lado esquerdo, vendo a lâmina descer onde estaria sua cabeça. No último instante, a espada de Kaito se virou num ângulo agudo, indo em direção a Shimaru. Era um ataque surpresa em velocidade espantosa.
Um brilho prateado na noite. Sangue. Um grito de dor contido.
- Como... Você...? – Kaito se esforçava para não ceder à dor e desmoronar no chão poeirento. Seu corpo do lado direito havia sido retalhado e apenas a pura força de vontade de um verdadeiro guerreiro o mantinha de pé.
- Você é lento demais, Kunimitsu-san. E seu corpo me deu todas as pistas sobre o seu ataque. – Shimaru já havia guardado a espada. O golpe fora rápido e brutal. O chamado “Ashura” de Edo não havia se sujado sequer de uma gota de sangue. Logo antes de o golpe o atingir, com velocidade inumana, aquele que parecia ser um monstro em pele humana se desviara para o outro lado ainda, seu lado direito, enquanto retalhava o tórax de seu oponente e guardava a espada num piscar de olhos.
Com um baque surdo, Kaito Kunimitsu cai ao chão, a espada ainda em punho, seus pulmões expostos. Shimaru retomou sua caminhada de volta para casa. Era realmente um demônio sem qualquer paixão humana, a não ser a sede de sangue. Era um animal vestindo-se de aristocrata. Vivia apenas para ceifar vidas humanas com sua espada agourenta.
“O administrador do distrito dos prazeres vai vir reclamar comigo amanhã.” Era uma constatação honesta, sem qualquer medo ou preocupação. Como sempre, Shimaru havia tentado lidar com a situação de forma civilizada, como manda a etiqueta, mas seu oponente tornou tudo irreversível. – É uma pena que tenha escolhido a mim para desafiar, Kunimitsu-san. Se tivesse me encontrado dois anos mais tarde, talvez eu pudesse ter tido um oponente mais desafiador.

(Conto mais ou menos antigo. Faz anos que tenho essa cena na cabeça e, ainda assim, não acho que ela esteja pronta de fato. Esse é só mais uma versão e provavelmente não é a melhor, mas é a mais apresentável).

segunda-feira, 9 de março de 2009

Inauguração do Blues

A coisa é a seguinte: criei um blog. Sei lá o por que, mas desconfio que seja porque um dia uma menina aí me disse que, se eu resolvesse mostrar o que eu escrevia eu poderia me surpreender. Talvez eu tenha acreditado nela ou talvez eu queira por a coisa a prova. Não importa. Senti vontade de criar isso aqui e pronto. Não tenho muita coisa que eu sinta vontade de mostrar pra quem quer venha a fuçar por aqui (seja lá quem for). Mas vou tentar manter uma ou outra coisa por aí. De vez em quando até brinco de rabiscar direto na tela e vejo o que sai. Mas a minha intenção é mesmo que as pessoas leiam o que, vez ou outra, eu ponho no papel.

Pra estrear essa budenga, eu coloco cá uma das poucas poesias que eu escrevi (e dessas poucas é uma das mais poucas ainda de que eu gosto). É velha mas ainda faz sentido.


Blues

Como canção dos anjos
num coro profano
sagrado, perdido
me perco.

A noite cai e me leva
pra solidão.
Último romântico na terra.
O copo vazio.

E você chega,
no meu sonho acordado
como que cega
vestida de azul, assim por acaso.

O cachimbo apagado,
cinzas num vaso.
E eu ouço o mesmo CD;
o Velho Cantor Legendário.

O inferno canta,
meu espírito aquece
e o meu sofrimento meio que se perde.
Não choro, mas tento.

O inferno canta
um coro sagrado, achado.
A noite que vai
e eu fico parado.

Finalmente te vejo
meio que de repente
naquele seu vestido preto
que parece o azul que me prende.

O copo vazio,
as cinzas num vaso,
CD terminado,
me levanto e saio.